Não era necessário, Maria Elisa!

O debate “Diana, 10 anos depois” que a RTP oportunamente realizou ontem à noite, em directo do Museu da Electricidade, constitutiu uma iniciativa louvável, na sequência, aliás, da estreia em televisão do filme “A Rainha”, que tinha exibido na véspera, e de outros programas do género, a pretexto da passagem da primeira década sobre a morte da “Princesa de Gales”.
O problema foi a moderadora. Maria Elisa, de resto, nem precisava disso, dado o facto de ser uma excelente profissional, mas persistiu quase sempre em fazer questão de demonstrar que tinha feito o trabalho de casa. Por causa disso passou o tempo a interromper os convidados, mesmo quando não o deveria fazer, quer porque eles estavam ainda a começar a intervir, quer porque alinhavam ideias e argumentos interessantes, objectivos e perfeitamente adequados ao ritmo televisivo. Por vezes as interrupções tornaram-se mesmo irritantes.
Trabalho sofrível.

Tão amigos que nós éramos

Bastou Tony Blair sair do governo britânico e cheirar a fim de ciclo político na América para se começar a saber, pela boca dos próprios responsáveis, que a invasão e guerra do Iraque foram decididos em cima do joelho.
Os altos comandos das tropas britânicas criticam já, aberta e duramente, a atitude dos EUA. Já se percebeu que a Casa Branca só tem uma preocupação de momento. Tentar não fazer muitas ondas, a ver se o mundo se vai esquecendo da verdadeira tragédia que a teimosia de Bush e companhia instalaram naquele país.
Depois destas declarações, a relação do Reino Unido com os americanos vai esfriar. A ler:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2007/09/070902_iraquebritanicosrc.shtml

Livros e vermes em Machado de Assis

“Cheguei a pegar em livros velhos, livros mortos, livros enterrados, a abri-los, a compará-los, catando o texto e o sentido, para achar a origem comum do oráculo pagão e do pensamento israelita. Catei os próprios vermes dos livros, para que me dissessem o que havia nos textos roídos por eles.
– Meu senhor – respondeu-me um longo verme gordo -, nós não sabemos absolutamente nada dos textos que roemos, nem escolhemos o que roemos, nem amamos ou detestamos o que roemos; nós roemos.
Não lhe arranquei mais nada. Os outros todos, como se houvessem passado palavra, repetiam a mesma cantilena. Talvez esse discreto silêncio sobre os textos roídos fosse ainda um modo de roer o roído.”

Machado de Assis, em “Dom Casmurro”.

Os tambores de Nietzsche

Um excelente artigo de Rodrigo de Lima Ferreira, na revista “Ultimato”, versão on-line:

Recentemente, através do Youtube, deparei-me com uma cena, no mínimo, inusitada: uma famosa cantora gospel brasileira, em um show (que insistem em chamar de “ministração”) começou a afirmar que, ao som dos tambores que seriam tocados pelos seus músicos, as potestades do mal seriam destronadas em nosso país, Satanás e seus asseclas seriam eternamente envergonhados, e o nome do Senhor seria exaltado. Infelizmente, não sei se isso ocorreu antes do recrudescimento da violência no Rio pré-PAN ou antes da avalanche de escândalos morais no Congresso Nacional. Porém, vi que, ao serem tocados os tambores, houve um frenesi, tanto na platéia como no palco: a cantora, sem muita intimidade com instrumentos de percussão, começou a “surrar” um gongo chinês, atravessando todo o ritmo, repetindo a todo tempo os mantras “o Brasil é de Jesus” e “diabo, você está derrotado”.

Sinto-me meio sem rumo. Em minha conversão, há 19 anos, nunca esperaria ver um ritual de macumba gospel palatável à burguesia divulgado pela internet. Ao formar-me no seminário e assumir uma igreja como pastor, há dez anos, não pensava em concordar tão prontamente com a banda de hip hop “Apocalipse 16”, na música “Meus inimigos estão no poder”, uma citação da composição “Ideologia”, de Cazuza.

É triste pensar no cristianismo evangélico atual no Brasil. Tornamo-nos pastiche de uma religiosidade irrelevante — e, o que é pior, tornou-se prato cheio para uma mídia com má vontade e sedenta de escândalos. Afinal, em dois dos mais recentes escândalos no país, evangélicos estão envolvidos de forma negativa: a recente acusação contra um deputado federal, líder de uma denominação, que pagou para um pistoleiro matar outro deputado, também pertencente à sua denominação; e, no caso do senador Renan Calheiros, Mônica Veloso, a repórter que não sabe fazer planejamento familiar e engravidou de um poderoso senador meio sem querer, afirmou ser, de acordo com entrevista à “Folha de S. Paulo”, “evangélica, batista, do Vale do Amanhecer”.

Friedrich Nietzche é um nome que causa arrepios entre nós, nem tanto por sua colaboração filosófica vital ao nazismo, mas mais por sua virulência contra o cristianismo protestante, atacando sem dó nem piedade a moral e os valores cristãos. Para ele, a figura de Jesus é o retrato mais bem acabado do fracasso e da derrota. Esta moral deveria ser suplantada por uma outra. Para tanto, ele propunha a nova moral, a nova ética, a partir do super-homem. Mas, para que tal intento tivesse sucesso, era necessário ter a consciência de que Deus, a fonte da moralidade cristã, morreu. Ele mesmo escreveu, em um de seus textos: “Deus morreu e nós o matamos! Sinta o cheiro da putrefação divina!”

Será que Nietzche está, afinal, certo? Será que Deus realmente morreu? Afinal, qual a relevância de Deus para o movimento evangélico de hoje? Qual a relevância dos valores do Evangelho do Reino, reduzidos a um mero exorcismo com tambores em um “show gospel” mal tocado? Aquilo que aprendemos nos domingos, em nossas comunidades, é praticado no dia-a-dia? Aquilo que aprendemos é mesmo aquilo que está na sua Palavra? Deus é relevante, ou se torna figura de retórica, pedra de toque, fetiche religioso para manipulação mágica do mundo espiritual, como o temos reduzido ultimamente?

Se não retornarmos (ou melhor, nos convertermos) ao Evangelho do Reino, abandonando o falso evangelho da macumba gospel, infelizmente, seremos obrigados a imaginar Nietzche, com aquele bigodão de vassoura, dando folgadas gargalhadas no inferno e gritando em alemão: “Eu venci!”. Que sejamos sal em um mundo apodrecido e luz no meio das trevas religiosas. Que o Senhor tenha misericórdia de nós.

• Rodrigo de Lima Ferreira, casado, duas filhas, é pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil desde 1997. Graduado em Teologia e pós-graduando em Missões Urbanas, hoje pastoreia a IPI de Serranópolis, GO.

Boomerang

O pai entrou no quarto da filha e encontrou uma carta dela sobre a cama:

“Queridos pais, com muita pena sou obrigada a confessar que fugi com o meu namorado. Encontrei o amor da minha vida! Estou absolutamente fascinada com os seus piercings, cicatrizes e tatuagens. Mas não é só, estou grávida de gémeos… Aprendi também que a maconha e a cocaína não fazem mal a ninguém. Só rezo para que a ciência encontre a cura da SIDA, o Joaquim merece. Não se preocupem com o dinheiro, o Joaquim conseguiu que eu entrasse em um filme com uns amigos: posso ganhar até 50,00 € por hora! Se for com mais de três homens são 200,00! E, se entrar o pastor alemão do Joaquim, aumenta para 300,00! Mãe, não se preocupe… Já tenho 15 anos e sei cuidar de mim. Com muito carinho,
Adriana.”

PS: Pai, é uma brincadeira! Estou a ver televisão na casa da vizinha. Eu só quis mostrar que há coisas piores do que as minhas notas…

Resposta do pai:

“Dei a carta a ler à tua mãe e ela teve um AVC. Ela está internada nos Cuidados Intensivos, entre a vida e a morte. Por causa disso, e a conselho dos meus advogados, retirei-te do testamento, todas as coisas do teu quarto foram dadas e também mudámos a fechadura de casa. Não tentes usar o cartão de débito porque a conta já foi cancelada. Cancelámos também o teu telemóvel. Demos a tua colecção de CD’s à tua irmã. Podes começar também a pensar em trabalhar. Com a tua idade e com esse corpinho estou certo que trabalho não vai faltar, apesar da concorrência das profissionais. Enfim, espero que sejas muito feliz na tua nova vida.
Teu pai.”

PS: Filha querida, claro que é tudo uma brincadeira. A tua mãe está aqui comigo a ver a novela. Só queríamos mostrar-te que há coisas bem piores do que passar as próximas 3 semanas sem sair de casa, sem ir ao shopping, sem internet e sem ver televisão por causa das tuas notas e dessa tua brincadeira estúpida…

Fonte: Pavablog.