Desde 1974, e muito em função das injustiças e desmandos do anterior regime, o país político evoluiu rapidamente para o extremismo esquerdista.
O chamado “efeito pêndulo” começou então a verificar-se e ainda não passou à história, em termos de estabilidade, pelo menos em algumas regiões do país.
Ou seja, se elevarmos o pêndulo demasiado para um extremo e o largarmos a seguir, a tendência natural é que ele vá para o extremo oposto e vice-versa, em movimentos contínuos, até perder o balanço e se imobilizar ao centro.
A nossa dificuldade nesta região é que as pessoas ainda não se libertaram de um complexo de esquerda. Têm pudor em votar diferente, e mesmo em avaliar livremente as propostas e personalidades que se apresentam a sufrágio, de modo a escolher os que lhe parecem melhores. Não são livres. Até agora, a única personalidade que conseguiu furar essa lógica psicológico-eleitoral em Setúbal (e apenas em eleições de carácter nacional) chama-se Cavaco Silva.
Mas poderíamos dizer exactamente o mesmo, em sentido contrário, em termos de geometria política, de outras regiões do país.
É estranho que até agora nenhuma câmara do distrito de Setúbal tenha sido conquistada pelos partidos de direita (à excepção da coligação PS-PSD em Setúbal, liderada por Mata Cáceres), no tempo dos afonsinos, o que apenas confirma a regra.
Pode sempre dizer-se que a actuação e discurso dos partidos de centro-direita não terá conseguido convencer os eleitores desta região. Mas porquê apenas aqui, se o PSD, por exemplo, é o partido com maior número de câmaras municipais no país?
Não sejamos ingénuos. A democracia é uma coisa que se vai construindo aos poucos na vida pública, mas as mentalidades demoram a mudar. No dia em que um eleitor de Trás-os-Montes se sentir tão livre para votar no PCP ou no Bloco de Esquerda, tanto quando um eleitor da Margem Sul para votar no PSD ou no CDS, então o regime democrático estará muito mais consolidado entre nós.
Infelizmente acho que ainda vai demorar algum tempo.