Temos que o dizer. Em tempos de dura crise, em que o país está mergulhado, a classe política incapaz que tomou o poder de assalto durante estes últimos anos, tanto em Portugal como na Europa, está a agir como aqueles que, quando o navio afunda, deixam para trás velhos, mulheres e crianças (leia-se os mais vulneráveis da sociedade) e instalam-se confortavelmente nos botes salva-vidas, com os respectivos coletes, enquanto os outros vão ao fundo, sem qualquer segurança nem oportunidade. Tais governantes não merecem respeito.
Quando há milhares de crianças com fome, que só conseguem comer uma refeição decente por dia e na escola;
quando os mais velhos deixam de ir às consultas médicas e de fazer a toma dos medicamentos de que necessitam para viver ou para controlar uma doença crónica, por falta de dinheiro para as pagar;
quando os pequenos e médios empresários, que são quem mais emprega e mais riqueza geram no país, são estrangulados por falta de financiamento bancário e obrigados a fechar portas, deixando um número crescente de casais no desemprego;
quando se corta às cegas nas prestações sociais (cuja filosofia é precisamente acorrer aos mais desprotegidos, seja pela doença, pelo desemprego ou pela velhice);
quando se taxam de forma leonina os rendimentos do trabalho e se deixam praticamente de fora os do capital;
quando os exemplos que vêm de cima são os piores possíveis (leia-se Dias Loureiro, Duarte Lima e restante pandilha);
quando um presidente da república em exercício se queixa do custo de vida e da sua reforma (apesar de dourada) e, de todos os que o precederam em Belém, é o que mais gasta com a presidência;
quando o principal partido da oposição enferma exactamente dos mesmos vícios dos que estão agora no poder;
quando o primeiro-ministro expressou o desejo de que os alunos do ensino obrigatório fossem obrigados a pagar (na forma de propinas ou outra) – embora o tenha negado depois – o que seria inédito em toda a União Europeia, além do verdadeiro roubo que constitui o preço dos manuais escolares e depois de tirar o desconto aos estudantes nos transportes públicos, é caso para dizer que a política sem ética não é aceitável e requer a resistência firme dos cidadãos.
Não é este o país que queremos!
Fonte: Brissos Lino, O Setubalense, 7/12/12.