Desculpem qualquer coisinha…

Golo de Maradona com a mão. DR


Maradona decidiu agora ir pedir desculpa ao árbitro tunisino Ali Bennaceur pelo golo falso marcado à Inglaterra, nos quartos-de-final do Mundial 86, uma vigarice praticada no Estádio Azteca, na Cidade do México. “Se foi mão, então foi a mão de Deus!”, disse na altura, metendo Deus em negócios sujos dos humanos, como é seu hábito e de muita outra gente. Demorou 29 anos.

Ultimamente também se tem falado muito sobre a necessidade de o Japão pedir desculpa pela sua actuação na II Guerra Mundial. E o facto é que o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe acabou de fazê-lo na televisão, exprimindo o seu “profundo pesar” pelos que morreram e pelos “danos e sofrimento incomensurável” infligidos a pessoas inocentes, por ocasião do 70.º aniversário do fim do conflito. Mas expressou igualmente o desejo de que as futuras gerações não tenham de continuar a pedir desculpas e que o Japão não volte a envolver-se numa guerra.

Portugal já pediu desculpas pela expulsão dos judeus (1496), pela boca do presidente Soares, em 1989, em Castelo de Vide.

Há até sectores que querem exigir uma indemnização aos povos europeus pela prática da escravatura dos africanos, ocorrida há séculos.

É evidente que o acto de pedir de desculpa se reduz a uma função simbólica e pedagógica. Nada mais do que isso. Mas também é estranho que tenham que ser gerações posteriores a justificar o que as anteriores fizeram.

E aqui entra uma espécie de perversão da abordagem histórica. Hoje vivemos no tempo dos direitos humanos, dos tratados internacionais, e enfrentamos novos problemas à escala global. Querer condenar acontecimentos ocorridos há séculos ou mesmo há décadas, sem atender ao seu contexto histórico é não compreender porque motivos o povo alemão levou Hitler ao poder, através das urnas. O povo alemão era um dos mais avançados e civilizados da Europa dos anos trinta, mas apesar disso deixou-se cativar por ideologia desumana, anticristã e uma verborreia alucinada e fanática do seu chanceler.

E se não compreendermos minimamente isto, então nunca estaremos precavidos contra futuras aventuras, manipulações, demagogias e ditaduras, pois a massa de que são feitos os seres humanos é a mesma, apenas tendo mudado a mentalidade e as circunstâncias. Mas isso não impede que ainda hoje continue a haver escravatura, exploração, abusos de toda a espécie, guerras, tortura e terrorismo.

É que, a continuar assim, daqui a pouco estamos a pedir desculpa aos castelhanos pelo que o D. Afonso Henriques lhes fez há séculos…

 

Fonte: José Brissos-Lino, O Setubalense, 31/8/15.

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