Complicadex

A chamada tarifa social sobre a electricidade, supostamente para dar algum apoio às famílias carenciadas foi a montanha que pariu um rato.

A DECO estima que o desconto andará entre 60 a 80 cêntimos por mês, já que incide não sobre o consumo mas sobre a potência contratada, pelo que considera que não se trata de nenhuma tarifa social. A Segurança Social começou esta semana a enviar o comprovativo para as famílias carenciadas pedirem a tarifa social de electricidade.

São abrangidos por esta tarifa os portugueses que recebem o subsídio de desemprego, a pensão social de invalidez, o 1º escalão do abono de família, o Rendimento Social de Inserção ou o Complemento Solidário de Idosos.

Ou seja, os serviços da Segurança Social vão-se dar ao trabalho e à despesa de enviar cerca de 750 mil cartas para casa dos beneficiários, que por sua vez terão que se deslocar às instalações da EDP de modo a terem direito ao desconto.

Isto é, os idosos (do Complemento Solidário de Idosos), os doentes (beneficiários da pensão social de invalidez) e outros vão ter que se deslocar até às previsíveis filas da EDP ou de uma Loja do Cidadão, perder horas para, no final do mês, pagarem menos a miséria de 60 cêntimos. Alguns vão perder a carta, outros não sabem ler, outros, que não se podem deslocar, ainda vão ter que pedir aos filhos, amigos, vizinhos ou familiares que o façam por si, com todos os inconvenientes previsíveis. E assim a EDP pode juntar aos seus lucros fabulosos mais umas migalhas de muitos que, por uma razão ou por outra acabarão por não concluir o processo.

E tudo isto para quê? Pura perda de tempo dos utentes e dos serviços da empresa e da segurança social, assim como gastos desnecessários com transportes, correio e paciência.

Na era do “Simplex”, do “Magalhães”, da internet de banda larga, da ID e da “modernização administrativa”, não ocorreu a estas cabecinhas pensadoras resolver as coisas de forma mais simples e amiga dos cidadãos? Ninguém pensou que a Segurança Social poderia simplesmente ter enviado directamente para a EDP, pela internet, uma lista dos utentes abrangidos, com a devida autorização para o desconto, que depois fosse processada internamente pela empresa? Então a EDP anda a estimular os seus clientes para aderirem à facturação electrónica e não poderia ter resolvido a coisa desta forma simplíssima e muito mais económica?

Vê-se mesmo que esta gente só sabe trabalhar atrás de uma secretária e não tem a noção do país real…

Fonte: Brissos Lino, O Setubalense, 7/01/11.

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